O JARDIM DE AMELIA
exposição de Amelia Pastro Maristany na Pinacoteca Aldo Locatelli
A exposição “O Jardim de Amelia”, a ser aberta em 1º de setembro na Pinacoteca Aldo Locatelli, se baseia em uma investigação iniciada em 2014 quando Sílvia Livi, Rogério Livi e Marco Aurélio Biermann Pinto, colegas em um curso de curadoria no Atelier Livre, examinaram quadros com flores para realizar uma exposição. Tentando elucidar equívocos na identificação e na biografia da pintora Amelia Pastro Maristany, descobriram uma trama de informações desencontradas sobre ela em livros, catálogos e folhetos de exposições na imprensa nacional e estrangeira. A pesquisa gerou uma cronologia das numerosas atividades artísticas que demonstraram a relevância na História da Arte do Rio Grande do Sul de Amelia Pastro Maristany, pintora nascida em Porto Alegre em 1887 e que desde jovem se dedicou a cultivar e pintar flores.
Um encontro decisivo
Há 101 anos, a jovem Amelia saiu de seu curso de bordado a máquina, atravessou a Rua da Praia e foi visitar a exposição do pintor espanhol Luis Maristany de Trias no Clube Caixeiral. Os jornais afirmavam que era a primeira exposição naquele estilo em Porto Alegre: “é impressionista, tem a graça leve e brilhante do colorido numa composição feita de audácias novas e de surpresas inéditas.”
Amelia, fascinada, viu o artista e ousou se aproximar. Por sua parte, Luis ficou encantado com as perguntas inteligentes daquela moça bonita. Dizem que nesse mesmo dia a pediu em casamento. Após a cerimônia, em agosto de 1922, o casal seguiu a itinerância das exposições do pintor.
Em dezembro de 1923, Amelia apresentou a sua primeira exposição na Argentina. Desde então frequentou um universo artístico desenvolvido, em muito distinto do então existente em Porto Alegre, consolidando uma sólida carreira profissional como pintora. Foi elogiada na imprensa do Rio de Janeiro em 1925 e de São Paulo em 1926; após seguiu para a Europa e expôs na Itália e na Espanha.
Após nascer sua filha Amelia Alice, em Buenos Aires em novembro de 1928, retornaram para a Espanha em 1930. Em Vigo os trinta quadros de Amelia retratando flores da Galícia receberam elogios: “Desta artista não se pode dizer que não sabe fazer mais que pinturinhas de convento. Sua fatura é vigorosa, varonil, valente, de amplas pinceladas de efeitos soberanos. Em suas flores há toda a vida que podem ter, ao despertar no jardim, beijadas pelo alentador orvalho matinal.” As notas da imprensa em todos os lugares destacavam a audácia de sua pintura.
Em 1938 o casal retornou definitivamente para Porto Alegre, onde Amelia Pastro Maristany expôs individualmente no Instituto de Belas Artes, nas galerias mais reconhecidas na época e em salões, recebendo comentários elogiosos na imprensa local.
A exposição na Pinacoteca
O projeto “Mulheres, a Fonte”, promovido pela Coordenação de Artes Visuais da Secretaria Municipal da Cultura de Porto Alegre, apresentou, entre novembro de 2020 e fevereiro de 2021, a mostra “Judith Fortes, 70 anos depois” com curadoria Rosane Vargas.
“O Jardim de Amelia” é a segunda exposição do projeto e contará com mais de trinta pinturas pertencentes às netas da artista, a colecionadores particulares, a Pinacoteca Barão de Santo Ângelo e a Pinacoteca Aldo Locatelli. Uma rara oportunidade de conhecer o trabalho de uma das primeiras pintoras profissionais de Porto Alegre – Amelia Pastro Maristany.
O JARDIM DE AMELIA - curadoria Sílvia e Rogério Livi
1º de setembro a 05 de novembro de 2021, seg a sex, das 9h às 12h e das 13h30 às 17h
Pinacoteca Aldo Locatelli
Praça Montevidéu, 10 – Paço dos Açorianos
Centro Histórico – Porto Alegre
51 3289 3735 / acervo@portoalegre.rs.gov.br
para acompanhar a exposição virtual nas redes sociais
Instagram: @artesvisuaispoa
Facebook: Coordenação de Artes Visuais
site: www.pinacotecaspoa.com
Para visitar a exposição
1ª) por agendamento via e-mail acervo@portoalegre.rs.gov.br ou pelo telefone (51) 3289-3735, de grupos com até cinco (05) pessoas; para a reserva ser confirmada será necessário o fornecimento dos nomes completos e respectivos contatos telefônicos;
2ª) sem agendamento deverá ser respeitada a capacidade máxima de cinco (05) pessoas por horário, de modo que havendo reserva prévia por outro grupo, será necessária a espera no lado externo do prédio.
O visitante deverá se apresentar na recepção do Paço dos Açorianos com documento de identidade onde também será verificada a sua temperatura com termômetro eletrônico infravermelho. Caso apresente temperatura acima de 37,5° ou sintomas de gripe/resfriado, não poderá acessar o edifício
O uso correto de máscaras de proteção facial - cobrindo boca e nariz - para o ingresso e permanência na Pinacoteca será obrigatório (inclusive no momento das fotos e selfies).
Haverá mediadores para garantir que a visita ocorra de forma segura.
Haverá dispensário com álcool gel na entrada do Paço para a higienização das mãos.
O distanciamento mínimo recomendado entre as pessoas será de 2 metros.
O tempo máximo de visitação será de 1h30.
MULHERES, A FONTE
É uma ação cultural de longo fôlego desenvolvida pela Coordenação de Artes Visuais (CAV) da Secretaria Municipal da Cultura de Porto Alegre, que propõe uma atitude a favor da promoção da igualdade de gênero na produção e na circulação das artes visuais e, ainda atuar numa espécie de rememoração positiva como antídoto ao esquecimento histórico ao qual uma gama de mulheres artistas foi jogada.
A ideia de associar mulheres ao conceito de fonte nasceu, no primeiro momento, em referência ao espaço de exposição – a Sala da Fonte – onde este trabalho curatorial será realizado, situada no Paço dos Açorianos, exatamente em frente à Fonte Talavera. Doada em 1935, no centenário da Revolução Farroupilha, pela colônia espanhola para a cidade de Porto Alegre, a Fonte Talavera de La Reina, além da função estética, sinaliza o marco zero da capital gaúcha. É interessante como este tipo de equipamento, que nos séculos anteriores ao século XX era parte utilitária de um sistema de abastecimento e distribuição de água passou a ser peça importante como marco urbano e objeto decorativo.
Esta espécie de alegoria decorativa das fontes é ainda, de certa forma uma das narrativas do papel das mulheres na sociedade, em especial quando nos referimos às artistas. No entanto, o desenrolar desta ação quer reacender o sentido de fonte, no que cabe as mulheres no mundo das artes, como fundamento ou causa de algo, ou melhor como ideia de manancial: fonte criativa, propositiva, contestatória, mesmo quando silenciadas. Assim, por meio de diferentes propostas curatoriais, as mulheres serão vistas como fonte e memória a que se recorre em busca de informações.